1. “Não sou flexível”.
Se alguém pretender flexibilidade no corpo, se calhar mais vale fazer aulas de “Stretching”. O Yoga é consciência e uma forma de ser, viver e estar. Não podemos comparar o que não é comparável. Podemos praticar yoga apenas para beneficiar de vantagens no corpo, mas o propósito de uma prática de Yoga não são os benefícios corpo-mente que vamos colhendo pelo caminho.
É viver de forma consciente, de nos libertarmos do sofrimento, de reconhecermos a plenitude e consciência que todos somos.
2. “É uma coisa religiosa e espiritual.”
Religare, origem etimológica da palavra “religião” remete para a necessidade de nos religarmos com algo que, aparentemente, está desconexo.
Logo, unirmos mente-corpo-espírito, em nós próprios, e “unirmo-nos” com o sagrado que todos somos e com o todo.
Espiritualidade nada tem a ver com conversas new-age e pozinhos de perlimpimpim, alinhamentos de chakras e confusões propagandeadas por aí, constantemente.
Há que entender o espaço de tudo. O que é espiritualidade? O que é maturidade espiritual? O que é holístico?
3. “Tenho de ser vegetariano/vegan.”
Cada um tem livre arbítrio. Sem reconhecermos os princípios éticos do yoga, Yamas e Niyamas (1º e 2º limbo dos 8 do ashtanga yoga de Patanjali) de conduta pessoal e social, sem termos estas guias orientadoras na nossa vida e dia-a-dia, o yoga fica pela rama. Logo, ahimsa , princípio ético de onde partem todos os outros, da não violência, a começar em nós próprios, com o que pensamos, dizemos e fazemos, naturalmente se este valor for reconhecido por qualquer praticante, não querendo causar danos aos demais, isso vai repercutir-se na escolha ética de não nos alimentarmos de outros seres (animais). Logo, é um processo natural de despertar de consciência que surge. E não de imposição. Podemos fazer asanas e ir a aulas de yoga, comendo outros seres? Sim. É uma escolha pessoal, sempre. Se faz sentido alimentarmo-nos de animais, com o conhecimento que temos, actualmente, de todos os processos, implicações, lobbies da indústria pecuária, da pegada imensa ao ambiente, da produção de sofrimento imenso? Animais que são criados em massa, sem dignidade alguma durante a pouca vida (muita exclamação aqui!) que conhecem e no processo de morte? Não, nem neste caminho do yoga, nem em nenhum outro.
4. “Não é para mim. É muito “parado”.
Tanta confusão. O que é parado? O que é para nós? É o que queremos? O que precisamos? Que imagens construímos nós acerca do Yoga? O estereótipo de sentar de “pernas à chinês”, fazer jnana mudra e entoar OM? Pois. Fazemos tudo isso, numa prática. Com um propósito claro e não para responder a imagens que continuam a estereotipar uma série de ideias erróneas. O Yoga é para quem o quiser abraçar, que é como quem diz, para quem SE quiser abraçar a si próprio. O Yoga é o caminho do auto (re)conhecimento da consciência que permeia todos nós, sendo a nossa natureza. Está em todos. Podemos querer ou não. Podemos descobrir que, afinal, até queremos. O yoga não é um meio para ficar mais calmo, acalmar a mente, reduzir o stress e ansiedade. Se esses benefícios ocorrem? Naturalmente, se a prática for vivenciada nesse sentido. O Yoga compreende um conjunto imenso de várias coisas e o “asana” é uma forma de preparar o corpo para a meditação. Há várias práticas bem vigorosas de físico, em que por mais exigente que seja ao corpo, acima de tudo, o desafio vai continuando na mente que, com a respiração, pode manter a serenidade, mesmo que estejamos a pingar em cima do tapete, numa prática imensamente exigente à mobilidade e agilidade, força e resistência do corpo.
5. “Estou deprimido. Ir ao yoga é melhor do que ir ao psicólogo.”
Tem efeitos psicoterapêuticos? Sim. O Yoga, quando vivido na sua imensa amplitude e integração na vida prática, é um processo de reconhecimento do que já somos, de libertação de sofrimento, de reprogramar todo o mindset que tantas vezes, podemos manifestar. Ainda assim, por muita coisa que possa acontecer no tapete, do denso ao subtil, inclusive manifestações que nem sempre “reconhecemos” aquando do seu processo, o tapete de yoga não é o sofá psicanalista, nem o professor de yoga, um psicólogo. Um professor de yoga pode e deverá ser terapeuta, mas especificamente, não é médico, não é psicólogo nem coach. Tudo se vai alterando na nossa vida, com a prática, mas há espaço para tudo. Ir a uma aula de yoga pode resultar melhor do que continuar a alimentar o ego numa consulta de psicologia moderna, mas tudo tem o seu propósito e espaço. E tudo se poderá complementar. Uma pessoa com fragilidades e problemas psíquicos, com uma prática mal adequada a si, e pranayama (que interfere - e regula ou desregula! - o sistema nervoso central pode ser um cocktail de maior desequilíbrio se mal orientado, aplicado e vivenciado.
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