Como comparar o que não é comparável? Se para nós yoga é uma espécie de “ginástica exótica”, então é natural acharmos que “já fazemos pilates”, logo, o yoga dispensa-se. Certo. Se estivéssemos a falar de práticas e modalidades desportivas.
Por que não comparar Pilates a uma aula de treino funcional? Por que se cai sempre na lógica de que é a “modalidade” mais parecida com yoga, se o yoga não é desporto? É a mesma lógica que dizer que já fazemos crossfit, por isso não faço yoga. Não faz sentido continuar a alimentar semelhante ignorância. É que a atenção à respiração deveria ser foco de qualquer profissional do desporto, independentemente de qualquer objectivo proposto ao atleta/praticante. O asana, a postura física – um dos 8 limbos do ashtanga yoga de Patanjali - é um dos meios para desintoxicar o corpo - veículo incrível ao dispor - de toxinas, fortalecendo-o, abrindo-o, soltando-o, etc.
Acima de tudo, começamos pelo denso, pelo grosso, pelo corpo, trabalhando e desenvolvendo-o para conseguirmos sentar numa postura meditativa e praticar para reconhecermos a mente serena que é natureza de todos nós. Usamos o corpo para preparar a meditação, não vivêssemos no séc.XXI, em plena sociedade de trabalho capitalista, ocidental, ora veloz para a mente, ora sedentária para o corpo, logo, há que cuidar do corpo, sim, mas para chegar ao trabalho da mente. Há uma proliferação de disparates que muitos yoginis ocidentais são responsáveis por propagar, numa era digital onde o asana é sobre valorizado, não só pelo culto do corpo, como pela propagação da vaidade nas redes sociais, e confusão entre prática de hatha yoga com artes circenses e acrobáticas. O corpo vai perder a sua força, tonos muscular, agilidade, a mente a sua capacidade cognitiva, naturalmente com o processo de envelhecimento, por isso mesmo, há que cuidar do corpo, que é o veículo, de forma a vivermos bem e saudavelmente nesta nossa casa, mas reconhecer o potencial desta mente como instrumento incrível ao dispor. Logo, cuidamos do corpo, mas treinamos a mente. Passamos tempo com ela, cada vez que nos sentamos a meditar. Ganhamos intimidade com a mente.
Como comparar isto a uma prática de pilates, com propósitos muito específicos e virados apenas para o corpo, com um sistema de respirações orientadas à execução do exercício específico na lógica de tonificar? [Parênteses para uma reflexão sobre a aplicação da metodologia clássica de pilates, a massas, em aulas de grupo, com corpos e necessidades tão diferentes, porque o médico sugeriu. Ainda bem. Mas o médico já experimentou pilates? Sabe a condição específica do paciente? É melhor prescrever caminhadas no parque e aulas de pilates do que medicamentos?Sem dúvida. Mas cada caso é um caso. Não há corpos normativos!]
Como comparar um sistema milenar que compreende uma forma de viver a um modelo criado e implementado, patenteado por alguém que desenhou uma sequência de exercícios normativos para corpos que não são os da maioria das pessoas, focando-se apenas no “físico” e nesse bem-estar que agora é vendido como marca e hashtag? #bodymindsoul e afins, certo. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Pilates não é yoga. Não pode ser comparado com Yoga e a atenção à respiração deveria ser foco de qualquer profissional das saúde e do desporto. Mas … não confundemos as coisas. Por favor. :-)
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